segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Meu nome não é Feio


      Ah, não é possível! É deitar a cabeça no travesseiro e esse cachorro começa a latir insanamente. Parece que faz de sacanagem, inacreditável. Também, não me surpreenderia se acaso ele fizesse isso de propósito. Ele e eu temos uma rixa desde mil novecentos e antigamente.
     Lembro-me de um primeiro dia de aula de um ano qualquer. Minha mãe simplesmente colocou o cachorro no meu colchão e ele, todo feliz, me acordou a lambidas. Naquela época, eu levava essas coisas felizes, hoje também, então não faz diferença. Mas ele não é assim comigo. Exclusivamente comigo.
     São dois os momentos em que ele gosta de mim: Um, quando eu tenho comida em mãos. É impressionante como ele começa a me adorar e me querer, isso até o final da minha refeição, porque hoje em dia eu não dou mais nada para esse safado. Dois, quando ele está preso. É um chororô sem tamanho, até o momento que eu canso e o liberto. Ele corre feliz pela cozinha, pela sala, parece ter cumprido toda a pena de seu crime e agora pode ser um cachorro livre novamente. Isso, claro, até a minha mãe chegar.
      Minha mãe, hoje, não o suporta mais. Também pudera, o desgraçado tem mais de 13 anos e nunca parou de mijar nos colchões, nos sofás e onde mais ele não deve. Meu pai tentou, minha irmã tentou, eu tentei, minha mãe não. Simplesmente o prendeu e fim de papo pro pequeno Feio.
     Aliás, Feio é como a minha irmã o chama. É costume, já. Só o chama pelo nome quando é para dar esporro por ter feito besteira, ou por não parar de latir para o nada, como tem acontecido constantemente. E com aquela voz fina que minha irmã tem, ela grita por Feio. Feio pra lá, Feio pra cá, “Feio, entra”, “Feio lindo da mamãe” – Sendo que ela, nem biológica, nem adotiva, é a mãe.
     Aí chega a minha mãe e acaba a brincadeira dele do dia. É, ele tem que voltar pro lugar. Minha irmã levanta e caminha até a porta de saída, ou entrada do pobre e o chama. Ele entra com uma tristeza, se encolhe no canto da parede e deita.
     Dá pra imaginá-lo resmungando: “Sei que já errei , mas peço desculpa. Não agüento essa surdinha me chamando de Feio. Meu nome não é Feio, meu nome é Jhonny e não me prendam, por favor, eu tenho medo de escuro.”
     Assim segue a vida. Depois disso todos vão dormir, eu me preparo também. Desligo o computador, confiro o despertador, apago as luzes, deito a cabeça e ... Porra, Jhonny!

3 comentários:

  1. Imaginando a voz da sua irmã...
    Só que, melhor, não.

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  2. Que bosta de texto ruim, cara... Procura outra coisa pra fazer pq escrevendo vc é um desastre...

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